Raça até o último segundo, catimba, habilidade e força física. Nenhuma descrição se enquadraria melhor do que essa ao falarmos do Uruguai. País bicampeão mundial e bicampeão olímpico, nossos vizinhos tem uma história rica quando falamos de futebol, história essa que se desenvolveu principalmente na primeira metade do século XX.
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Em 1934, o país recusou-se a disputar a Copa na Europa, em represália aos países que haviam se negado jogar o torneio de 1930. Também não participou da edição de 1938, só voltando a competir no maior torneio de seleções do mundo na sua primeira edição pós-guerra, em 1950, no Brasil. E não só voltou a participar, como fez bonito, protagonizando um dos maiores vexames da história do futebol brasileiro: a derrota do país-sede na final em pleno estádio do Maracanã, com um gol do ponta Gigghia. Vexame esse nunca esquecido pelos brasileiros, conhecido pelo nome de Maracanazo.
Nessa seleção campeã em 1950, podemos ver bem as características marcantes do futebol uruguaio. A habilidade do ótimo lançador Julio Pérez, que fez o passe para o fatídico gol. O ponta Gigghia, supracitado, possuía grande força física e uma explosão muito grande. O capitão da conquista, e principal jogador, era o incansável Obdulio Varela, considerado até hoje o melhor jogador da história do Uruguai.
Diego Lugano, capitão uruguaio na Copa de 2010 e ex-zagueiro do São Paulo, disse certa vez que “com Deus, não se brinca”, ao ser questionado pelo jornalista João Palomino, da ESPN, se nunca havia brincado de ser Obdulio quando era criança, fantasiando ser o craque e herói nacional. Analisando friamente a resposta do zagueiro, dá pra se ter uma noção do que o “Negro Jefe” significa para o futebol do país.
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Se as coisas não iam tão bem para o selecionado nacional, seus clubes faziam bonito. O Peñarol tornou-se o terceiro maior vencedor da história da Libertadores da América, com cinco títulos, atrás apenas dos argentinos Independiente e Boca Juniors. Além de possuir o maior artilheiro da história da competição, o equatoriano Spencer, os Carboneros lançaram ao mundo jogadores como o habilidoso meia Pedro Rocha, o goleiro Mazurkiewicz e Pablo Forlán, pai do atual principal destaque da Celeste, Diego Forlán. O Nacional, outro clube uruguaio, venceu o torneio em três ocasiões nesse período, com jogadores como Hugo De León e Waldemar Victorino.
Outros jogadores habilidosos surgiram no Uruguai, como Álvaro Recoba, além de bons defensores, como Alejandro Lembo e Paolo Montero. Porém, a falta de união no conjunto fez com que o time não engrenasse vôos maiores. Em 2002, após o fracasso nas Eliminatórias para as Copas de 94 e 98, a Federação decidiu efetivar o treinador Victor Púa, que havia trabalhado nas categorias de base do país, para dar liga à seleção principal. A Celeste até conseguiu a classificação para a Copa, mas teve uma presença vexatória, somando apenas dois pontos em três jogos.
Após novo fracasso na tentativa de classificação para a Copa de 2006, dessa vez perdendo a repescagem para a Austrália, a Federação decidiu efetivar outro conhecido das categorias de base, Óscar Tabárez, que havia trabalhado com a equipe sub-20 de seu país nos anos 80. Em sua primeira campanha, um quarto lugar satisfatório na Copa América de 2007. Mas o grande trabalho viria em 2010.
Após uma classificação conturbada, ao perder a última partida para a Argentina e disputar a repescagem para a Copa do Mundo de 2010 para a Costa Rica, o Uruguai se classificou como um azarão para a edição da África do Sul. Azarão? Ledo engano. Resgatando traços de sua cultura, o país aliou força física, coletividade e habilidade para sair de um grupo relativamente complicado na primeira fase, que contava com os anfitriões sul-africanos, o México e a França, derrotar a veloz Coreia do Sul nas oitavas e bater Gana nas quartas, num dos jogos mais emocionantes da Copa. A espetacular campanha foi parar nas semifinais, com uma derrota para a Holanda.
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Ainda é cedo pra falar no futuro, mas a julgar pela idade e qualidade do grupo, além do bom trabalho do treinador, o futebol uruguaio poderá sonhar em reeditar momentos como os do último século, onde um dos menores países da América do Sul esteve no topo do mundo.
Imagens: Uruguai em 1930 (MTN Football.com); Uruguai em 1950 (SoccerNet.com); Uruguai em 2010 (FutbalWallpapers.com).
Imagens: Uruguai em 1930 (MTN Football.com); Uruguai em 1950 (SoccerNet.com); Uruguai em 2010 (FutbalWallpapers.com).
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