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segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Jogar futebol antigamente era bem mais difícil

Final de ano, mundo do futebol de recesso (com exceção da Inglaterra, esses amam mesmo o futebol!), nada legal passando na TV... Resolvi assistir um jogo de 1982. Há 30 anos, Peñarol e Aston Villa se enfrentavam na Copa Intercontinental, a terceira edição realizada no Japão.

Eram outros tempos. Para um adolescente nascido na década de 1990, assistir a um jogo "retrô" é mais do que a fantasia das histórias futebolísticas. É ver com os próprios olhos como era o esporte, no começo da década de 1980.

Zagueiros cabeludos e barbudos - caso do capitão do Peñarol, Walter Olivera. Camisas para dentro do calção. Chuteiras pretas. Esse era o futebol da época.

Mas ao decorrer do jogo, pensei comigo mesmo "que jogo ruim, os dois times, campeões continentais, jogam muito mal!". Realmente, o jogo não foi muito bom do ponto de vista técnico e tático, vendo com os olhos de quem está acostumado a assistir o Barcelona, o Manchester United, o Bayern de Munique atuais.

No entanto, para analisar com mais precisão os jogos daquela época, antes de criticar, é preciso levar em conta diversos aspectos, dos mais variados.

O campo do Estádio Nacional de Tóquio estava deteriorado, em péssimo estado. E não havia tido nenhum jogo no local antes da final, pois a Copa Intercontinental reunia apenas duas equipes. Os gramados de antigamente não eram tão bem cuidados como hoje, não eram tapetes. Muitos eram pastos esburacados!

Com o gramado ruim, a bola não rola direito. Além disso, as bolas de futebol eram muito mais pesadas que hoje em dia. Nos tempos de Friedenreich, Leônidas da Silva e Pelé, a melhor amiga do jogador era muito bem tratada pelos craques, mas não era fácil domar a redonda. Feita de couro, costurada, com bico que gerava um calombo e chegava a influir na trajetória da bola, ela ainda absorvia água quando o gramado encharcava por causa da chuva, e ficava mais pesada. Mesmo assim, o grande lateral-direito Djalma Santos conseguia, em um arremesso lateral, mandar a bola para dentro da pequena área, possibilitando as chances de gol como se fosse em um escanteio.

Claro que, ao passar dos anos, a bola de futebol foi se modernizando, mas a diferença da bola de 1980 para a de hoje é escandalosa. Hoje os atacantes e goleiros têm a pachorra de reclamar que a bola é ruim, sendo que só falta ela tomar seu caminho por conta própria, tão pequeno pode ser o esforço do jogador. Antigamente os goleiros agarravam chutes violentos sem deixar a redonda escapar, como foi o caso do goleiro do Peñarol, Gustavo Fernández, em diversos chutes dos atacantes do Aston Villa no mundial de 1982. Hoje, com a bola leve, muitos goleiros só conseguem espalmar e bater roupa.

As chuteiras também eram infernais para os jogadores. Ensopava de água, era dura, pesada e com travas perigosas. Hoje, são leves e coloridas.

Os uniformes também eram desconfortáveis. Feitos de tecidos que esquentam o corpo etc. Atualmente, eles são flexíveis, leves e ajudam na transpiração.

A preparação física também é outra coisa que evoluiu muito. Não preciso nem citar os pontos de evolução, que ajudaram os atletas de todos os tipos de esporte. Mas no futebol, juntamente com a parte tática, a preparação física fez com que o estilo de jogo mudasse e facilitasse o jogo bonito e a ascensão de novos craques.

O Peñarol de 1982 e o Peñarol vice-campeão da Libertadores de 2011 são parecidos, curiosamente. O estilo de jogo não mudou, há muitos chutões, jogo amarrado, truncado e pouca técnica. Não que o Peñarol campeão da América e do Mundo em 1982 tivesse pouca técnica, afinal jogavam naquele time nomes como Venancio Ramos e Jair e o matador Fernando Morena. Não, não. Não era um time ruim. O futebol de hoje que é bem diferente do que outrora. Só o Peñarol e os times uruguaios é que não perceberam.

Um ponto interessante dessa drástica mudança no futebol são as regras. Algumas regras, que para alguns podem ser inexpressivas, nos mostram a diferença do jogador de outras épocas para o jogador atual.

Em meados dos anos 90 os goleiros foram proibidos de pegar com a mão as bolas recuadas. Imagine se, nos tempos de Pelé, Puskas, Bobby Charlton, Eusébio,Falcão, Zico, Sócrates, o goleiro usasse apenas os pés em bolas recuadas. Com sua malandragem, o Negrão iria infernizar (mais ainda) a zaga adversária. Ao invés de marcar mil gols, marcaria dois mil! Não vejo Messi, Cristiano Ronaldo, Neymar, se aproveitarem dessa vantagem que Pelé não teve.

E o impedimento, que, quando o atacante estando na mesma linha dos zagueiros, deveria ser marcado? Hoje é o contrário.

É por tudo isso e mais uns cem motivos, que mais uma vez cheguei à conclusão de que os jogadores de antigamente, quando o futebol tinha ares românticos e sem nenhuma frescura, ainda são superiores aos popstars da atualidade.

Ah, já ia me esquecendo. O Peñarol venceu o Aston Villa por 2 a 0, ergueu a taça na frente dos ingleses, e deu a volta olímpica, que os uruguaios inventaram.

Até o ano que vem!